Minhas respostas a uma jornalista brasileira

– Grandes museus ocidentais, como o MoMA, o Guggenheim, a London Royal Academy e a Pinacoteca de Paris, estão realizando exposições de artistas japoneses, de diferentes períodos e estilos. Ano passado, Yayoi Kusama se transformou numa estrela internacional. Você poderia comentar esse interesse pela arte japonesa no exterior?

Não é novidade. No final do século 19, gravuras tradicionais japonesas trazidas à Europa até influenciaram grandes artistas pós-impressionistas de lá. Após uma longa pausa durante a maioria do século 20, nas últimas décadas o influxo de cultura japonesa no Ocidente recomeçou, desta vez precedido por cultura popular, tais como mangá e animê (aquelas gravuras trazidas à Europa também eram de cultura popular, tipo mangá daquele então). Agora a arte contemporânea japonesa com toque dessa cultura popular está seguindo. O que não mudou é a preferência, por parte do mundo ocidental, a algo exótico, estranho, fora da modalidade modernista ou ocidental (o movimento japonês Gutai, meio abstrato com um contexto internacional, foi uma rara exceção). O Orientalismo existe, e cada vez mais.

– Acredita que artistas mais comerciais, como Kusama e Takashi Murakami, ajudam a incentivar esse interesse?

Acredito. Porque Kusama e Murakami satisfazem muito bem as expetativas da gente do Ocidente, tanto os curadores e galeristas quanto o público. Ambos viraram estrelas no Ocidente antes que no próprio Japão. Kusama é conhecida como psicopata – meio louca, mas, na verdade, ela parece ser bem sã e inteligente –, baixinha, de olhos alargados e cabelo verde ou vermelho, muito exótica. Já o Murakami tem jeito de uma criança descomunal, esquisito, quase que um palhaço. Creio que essas aparências ajudaram eles muito a ser famosos no Ocidente, além de seus trabalhos. E essas suas impressões reforçam e reproduzem as imagens e expetativas ocidentais à cerca de arte japonesa.

– Ou você acha que ainda há muito pouco conhecimento sobre a arte japonesa, especialmente a contemporânea?

Acho muito forte. Por exemplo, como no Ocidente ainda atuam pintores abstratos muito importantes – o alemão Gerhard Richter, o francês Bernard Frize, e o brasileiro Paulo Pasta, entre outros , no Japão também existem artistas jovens que trabalham com abstração e que não têm cabelo verde nem jeito de palhaço. Mas a arte abstrata contemporânea do Japão sempre perde, fica desconhedida ou ignorada no resto do mundo, não por falta de qualidade, mas sim pela preferência fixa da gente do exterior. É uma pena.

Entrevista realizada por email no dia 20 de janeiro de 2013.

Muito obrigado, prezada Claudia Sarmento! – Satoru Nagoya

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